Arábia Saudita quer trocar o petróleo pela inteligência artificial
A Arábia Saudita não quer ser lembrada apenas como o maior exportador de petróleo do planeta. Sob a bandeira do Vision 2030, o reino acelera para virar superpotência de IA — e tem caixa (e pressa) para isso

"MBS VISION"
Arábia Saudita quer trocar o petróleo pela inteligência artificial
A Arábia Saudita está despejando mais de US$ 100 bi para se tornar superpotência de IA dentro do plano Vision 2030. O reino lançou a estatal Humain com um orçamento de US$ 77 bi para construir 6,6 GW em data centers no deserto e comprar 180 mil GPUs da Nvidia. Um segundo fundo soberano de US$ 40 bi voltado a IA está em negociação com grandes VCs do Vale do Silício, enquanto um veículo de venture capital de US$ 10 bi busca startups globais.
O pacote LEAP 2025 adicionou outros US$ 15 bi em compromissos, elevando a soma prometida desde 2022 para mais de US$ 42 bi. Há ainda US$ 18 bi reservados a um programa nacional de data centers e US$ 5 bi para o campus net-zero DataVolt em NEOM, que terá 1,5 GW totalmente abastecido por energia renovável.
A estratégia de Mohammed bin Salman inclui acordos com Nvidia, AMD, AWS, Qualcomm, OpenAI, Anthropic e xAI para instalar “AI factories” e desenvolver modelos de linguagem em árabe “classe mundial”. Em paralelo, bolsas integrais na KAUST formarão 2 000 cientistas de IA por ano, enquanto incentivos fiscais zeram impostos sobre dados.
Objetivo: processar 7% das cargas globais de IA até 2030 e reduzir a dependência do petróleo, que hoje responde por 70% das exportações sauditas. O movimento cria rivalidade direta com Emirados e Catar, já consolidados no Golfo.
Riscos? Implantar gigawatts de infraestrutura em região árida, atrair 30 000 especialistas para o deserto e lidar com questões de governança de dados sob escrutínio de EUA e UE. Ainda assim, se cumprir o roteiro, Riad pode converter poder computacional em nova alavanca geopolítica — um “OPEP dos chips” capaz de influenciar a economia digital como fez com o barril nas últimas cinco décadas.