Silicon Valley contrata “terapeutas de ayahuasca” para recalibrar cérebros queimados pelo excesso de trabalho
No coração da indústria que vive de acelerar o futuro, cresce um mercado paralelo que promete pisar no freio — ou, melhor, abrir portais internos.

Techs voltam dos psicodélicos e vão direto para a terapia — bancada pela empresa
Silicon Valley contrata “terapeutas de ayahuasca” para recalibrar cérebros queimados pelo excesso de trabalho
No coração da indústria que vive de acelerar o futuro, cresce um mercado paralelo que promete pisar no freio — ou, melhor, abrir portais internos. Startups e fundos de venture capital no Vale do Silício estão pagando psicólogos especializados em psychedelic integration para ajudar funcionários a processar viagens com ayahuasca, psilocibina e outras substâncias alucinógenas.
A lógica é simples (e lucrativa): depois de “expandir a consciência” em retiros na Costa Rica ou no deserto mexicano — onde o uso desses psicodélicos é tolerado — os trabalhadores retornam a Palo Alto enfrentando crises existenciais, surtos de criatividade ou o desejo súbito de largar tudo. É aí que entram profissionais como a psicóloga Denise Renye. Desde 2016, ela oferece sessões individuais e coaching executivo focados em traduzir as visões caleidoscópicas em planos de vida, metas de carreira e, claro, produtividade renovada.
• Demanda em alta – Renye afirma que ~45% dos seus clientes corporativos buscam esse serviço, contratado tanto por iniciativa pessoal quanto por programas internos de bem-estar.
• Burnout 2.0 – O discurso mudou: não se trata mais de ping-pong e almoço vegano grátis, mas de “resetar o cérebro” para evitar a fogueira do crunch time.
• Equipe em transe – Algumas empresas veem as sessões como “team-building espiritual”, enviando squads inteiros para cerimônias fora dos EUA, onde as substâncias são legais.
• Zona cinzenta regulatória – Nenhuma das drogas é permitida em território americano, mas consultorias jurídicas apontam brechas para viagens corporativas e acompanhamento remoto.
Pesquisadores estudam os benefícios terapêuticos dos psicodélicos contra depressão resistente e TEPT, mas alertam: sem supervisão adequada, a experiência pode amplificar ansiedade, delírios e decisões drásticas (como abandonar o emprego — ou a própria empresa).
Enquanto Wall Street cobra retorno e Stanford recruta talentos, o Vale descobre um novo KPI: quantas epifanias transcendentes cabem num sprint de duas semanas. Se o futuro pertence aos que ousam, talvez também pertença aos que, de olhos vendados e ao som de tambores, encaram o abismo interior — com um terapeuta na videochamada, prontos para voltar ao Slack na segunda-feira.