A tecnocracia que comanda o império americano
Com Musk, Thiel, Palantir e aliados no governo dos EUA, a elite do Vale do Silício deixou de apenas financiar campanhas para governar diretamente. O império americano está sob nova gestão — falando em código, dados e dominação algorítmica.

Agora é a vez da tech mandar.
A tecnocracia tomou o império americano
Com Musk, Thiel, Palantir e aliados no governo dos EUA, a elite do Vale do Silício deixou de apenas financiar campanhas para governar diretamente. O império americano está sob nova gestão — falando em código, dados e dominação algorítmica.
Nos Estados Unidos de 2025, o centro do poder não é mais apenas o Salão Oval — é também o boardroom da Andreessen Horowitz (a16z), os terminais da Palantir, os escritórios da OpenAI e os servidores da X (antigo Twitter). O que antes era lobbying foi absorvido pela máquina estatal. E o que era backstage agora comanda o palco.
Peter Thiel: o arquiteto da tecnocracia
No epicentro dessa transformação está Peter Thiel — bilionário, libertário e ideólogo do poder tecnológico. Cofundador da Palantir e do PayPal, Thiel foi o primeiro grande doador de Trump em 2016. Mas foi seu trabalho intelectual que moldou a nova elite política.
Livros e ideias
No best-seller Zero to One (2014), Thiel discorre sobre a importância de criar monopólios tecnológicos como forma de garantir progresso e estabilidade:
“Monopolies drive progress.”
Ele vê a inovação real como aquela que resolve problemas inéditos — não a reprodução de ideias já existentes. Para ele, é preferível dominar nichos de forma “monopolista” do que participar de competições estagnadas.
Em The Diversity Myth (1995), coautoria com David Sacks, Thiel critica o que chama de “política de identidade” e o relativismo nos campi universitários. Ele defende uma cultura que valorize o mérito objetivo — essencial para uma tecnocracia racional.
Em artigos e palestras, Thiel também defende agendas políticas que alinham poder estatal e tecnologia: menor regulação, mais investimento em defesa, soberania digital e reformas institucionais.
Proxy político: J.D. Vance
Ex-funcionário de Thiel, J.D. Vance foi eleito senador com seu apoio e, em 2025, tornou-se vice-presidente dos EUA na chapa de Trump. Vance atua como uma extensão de Thiel em Washington — permitindo que o bilionário influencie diretamente a política de segurança, imigração e IA. Alguns analistas apontam que Thiel pode estar preparando Vance como seu projeto político de longo prazo: um futuro presidente com o Vale do Silício no comando.
Founders Fund: o elo entre tecnologia e Estado
Pelo Founders Fund, Peter Thiel é investidor e sócio de Elon Musk em empresas estratégicas como a SpaceX e a Starlink — um império aeroespacial e de infraestrutura digital com poder geopolítico real.
Foi com a Starlink que Musk forneceu internet à Ucrânia durante os primeiros meses da guerra contra a Rússia, e mais recentemente direcionou seus satélites para o Irã, em apoio à população que teve acesso à internet cortado pelo regime local.
É a primeira vez na história que uma empresa privada detém controle direto sobre conectividade soberana — em escala global.
O ecossistema tecnocrático
Thiel não opera sozinho. Ele se articula com outros nomes do Vale:
Elon Musk, com X, SpaceX e Neuralink, é hoje um dos principais agentes de influência sobre opinião pública e infraestrutura estratégica.
Marc Andreessen, da a16z, lidera o movimento e/acc — um “aceleracionismo eficaz” focado em crescimento via tecnologia.
Joe Lonsdale e David Sacks, ex-colegas do PayPal e Palantir, são financiadores de mídia, think tanks e candidatos alinhados à nova ordem digital.
e/acc vs. decels: o embate ideológico dentro do Vale
O Vale do Silício está rachado entre dois blocos:
e/acc (effective accelerationism): linha defendida por Andreessen, Lonsdale, Balaji Srinivasan. Pregam aceleração implacável da tecnologia, menos regulação, disrupção como valor moral e conquista geopolítica via inovação.
decels (deceleracionistas): nomes como Tristan Harris (Center for Humane Tech), Eliezer Yudkowsky e grupos ligados à OpenAI e DeepMind defendem prudência. Pedem limites éticos, supervisão estatal e desaceleração em áreas como IA geral, neurotecnologia e automação armamentista.
Essa divisão já chegou ao Congresso. Propostas como controle sobre uso militar de IA, limites em chips de altíssima performance e fiscalização sobre modelos fundacionais de linguagem dividem Washington. Thiel e Andreessen veem isso como entrave ao progresso — os decels veem como freios necessários ao colapso civilizacional.
O que está em jogo
A substituição da política tradicional por “governança de fundadores”
O uso de dados, sensores e algoritmos para gerenciar políticas públicas
A captura da segurança nacional por empresas privadas (Palantir, Anduril, SpaceX)
A reconfiguração da democracia em um império de infraestrutura digital
Estamos vendo a consolidação de uma elite que acredita que o futuro pertence a quem o constrói — com ou sem o consentimento dos eleitores.
O império americano está sendo reprogramado. E os novos imperadores não usam terno — usam código-fonte.