Banco Master e 2 bilionários se uniram para elevar o preço das ações da Ambipar em 800%, segundo a CVM
Relatório da área técnica da CVM aponta que os bilionários Nelson Tanure e Tércio Borlenghi Júnior, em parceria com o Banco Master, executaram compras cruzadas e recompra de ações que turbinaram a cotação da Ambipar em até 800%

Ambipar foi a melhor ação da bolsa brasileira
CVM vê “atuação coordenada” para inflar ações da Ambipar; Tanure, Borlenghi e Banco Master podem ser obrigados a lançar OPA
Um relatório da Superintendência de Registro de Valores Mobiliários (SRE) da CVM concluiu que o empresário Nelson Tanure, o controlador da Ambipar Tércio Borlenghi Júnior, o Banco Master e sua distribuidora Trustee agiram de forma “interdependente e coordenada” para impulsionar em até 800 % (863 % no pico) o preço das ações da companhia de gestão ambiental entre junho e agosto de 2024. Segundo o parecer, a compra maciça de papéis—feita sobretudo pelo fundo Esna FIP (ligado a Tanure) e pela Trustee—viabilizou três objetivos:
Reforçar garantias exigidas para que Tanure arrematasse a estatal paulista Emae por R$ 1,04 bilhão.
Valorizar o patrimônio de Borlenghi sem que este extrapolasse sozinho o limite de ⅓ de participação que obriga o lançamento de oferta pública de aquisição (OPA).
Fortalecer o balanço do Banco Master, cujo patrimônio líquido saltou para R$ 4,7 bilhões — margem que amplia a capacidade de captar recursos via CDBs.
A SRE afirma que o esquema combinou:
Programa de recompra de até 20,8 milhões de ações da Ambipar a R$ 8,07, equivalente a 37 % do free float.
Compras diretas por Borlenghi (que elevou sua fatia de 66,7 % para 73,5 %).
Aquisições via Trustee, que chegou a 15 % e, depois, reduziu a posição.
Com a disparada, o valor de mercado da Ambipar atingiu cerca de R$ 27 bilhões, retirando a empresa do índice Small Caps da B3 e permitindo à companhia usar ações valorizadas para quitar obrigações, gerando ganho estimado em R$ 260 milhões.
#Consequências em debate
Dois diretores da CVM — o presidente João Pedro Nascimento e a diretora Marina Copola — já votaram pela obrigatoriedade de a Ambipar protocolar pedido de OPA em até 30 dias após a decisão final do colegiado. Ambos defenderam que a obrigação deve recair sobre Borlenghi, não sobre a corretora, e aplicaram o conceito de “atuação em conjunto” fora do escopo tradicional de acionista controlador. O julgamento foi suspenso por pedido de vista do diretor Otto Lobo e ainda não tem data para ser retomado.
#Próximos passos
Ambipar, Trustee/Banco Master e Esna FIP recorreram da determinação preliminar de OPA.
Caso o colegiado mantenha o entendimento da SRE, a oferta pode movimentar até R$ 4,5 bilhões (preço de referência de R$ 159 por ação em 27 jun.).
Analistas avaliam que a decisão inaugura jurisprudência mais dura para operações que elevem participação acionária por meio de “parcerias táticas” no mercado.
Procurados pelo Valor Econômico, Tanure, Ambipar, Trustee e Banco Master não se pronunciaram.