Bukele, o ‘ditador’ que conquistou o povo ao reduzir o crime e tornar El Salvador o país mais seguro das Américas

El Salvador passou de capital do crime a país com a menor taxa oficial de homicídios das Américas: 1,9 por 100 mil habitantes.

Bruno Richards 04 Jun 2025
A mão de ferro que agrada: por que 9 em cada 10 salvadorenhos apoiam Bukele

A mão de ferro que agrada: por que 9 em cada 10 salvadorenhos apoiam Bukele

Bukele, o ‘ditador cool’ que transformou El Salvador no país (oficialmente) mais seguro das Américas

Pouco mais de dois anos atrás, El Salvador era sinônimo de violência: 106 homicídios por 100 mil habitantes em 2015, domínio absoluto das gangues MS-13 e Barrio 18 e extorsão até de vendedores de rua. Hoje, a taxa oficial despencou para 1,9 por 100 mil — menor que Canadá e Chile — e o presidente Nayib Bukele exibe 9 em cada 10 salvadorenhos a seu lado.

O choque começou em março de 2022, quando o governo decretou estado de exceção ilimitado. Mandados de busca dispensados, telefones grampeados em massa, soldados nas ruas e mais de 70 mil prisões (1 em cada 50 adultos). Grande parte foi enviada ao mega-presídio CECOT, com capacidade para 40 mil detentos, símbolo do que Bukele chama de “guerra total às gangues”.

O resultado foi um número inédito de dias com zero homicídios — 28 somente em 2024 — e uma queda de 92 % nos assassinatos desde o pico de 2015. Economicamente, o governo calcula economia de US$ 4 bi ao ano em custos de crime e ganho extra de turismo: voos internacionais cresceram 30 % em 12 meses.

Mas o sucesso de segurança tem um custo alto. ONGs acusam o governo de 40 mil detenções arbitrárias, centenas de mortes sob custódia e julgamentos coletivos de 900 réus por vez. O Supremo foi trocado por aliados, a reeleição contínua — proibida pela Constituição — foi liberada e críticos falam em “autocracia popular”.

Bukele, porém, abraça o rótulo: “Se ser duro com criminosos me faz ditador, então sou o ditador mais legal que você já conheceu”, disse em rede nacional. Nas ruas de San Salvador, pouca gente discorda. Para a maioria, trocar liberdade civil por segurança valeu a pena.

A experiência salvadorenha vira case regional: Honduras cogita copiar o modelo, e políticos no Equador, Peru e até EUA mencionam Bukele como inspiração. Resta saber se o país conseguirá sustentar os números sem estado de exceção permanente — ou se a “paz de ferro” veio para ficar.

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